sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O autocarro das estrelas


- Mãe…?
- Sim…?
- Porque é que as estrelas brilham?

Tínhamos acabado de sair da festa. Olhava pelo retrovisor. Apercebia-me da forma como aqueles olhos, feitos bolas-carvão e brilhantes se deixavam seduzir pelo outro brilho, o das estrelas. A estrada estava molhada. O limpa-pára-brisas ia cumprindo o seu destino, brincando com as gotas que se iam escondendo entre umas e outras. A luz azul e vermelha do tablier ia iluminando, de forma meiga, aquele espaço.

- Mãe…? Então?... As estrelas estão assim porquê?

Pensava naquela pergunta e na resposta que lhe deveria dar.
O rádio ia acompanhando aquele passeio tranquilo. A voz de Bethânia. “Onde estará meu amor?”

“…Se a voz da noite respondeu / onde estou eu, onde está você…”

- Porque estão felizes. Porque estão sempre a brincar às escondidas umas com as outras, a pregarem partidas umas às outras…
- Como eu com os meus amigos…
E surgia-lhe um sorriso traquina e brilhante.

- E mãe, porque é que às vezes aparecem uns riscos no céu?


“… Onde estou eu, onde está você / estamos cá dentro de nós, sós / Se a voz da noite silenciar / Raio de sol vai me levar…”


- Aquele risco é um autocarro que leva as estrelas para as suas casas sempre que acaba uma festa!
Olhei pelo retrovisor. Já não ouviu a minha resposta. Havia uma paz naquele rosto, próprio das crianças. Ainda sorri. Um autocarro a levar as estrelas de um lado para o outro. Se me ouvissem lá… Olhei novamente pelo retrovisor. Percebia o que ela cantava. Estamos cá dentro de nós. Como as estrelas que estão sempre a brincar umas com as outras e sempre que acaba a festa lá têm que ir apanhar o autocarro.

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