
- Mãe…?
- Sim…?
- Porque é que as estrelas brilham?
- Sim…?
- Porque é que as estrelas brilham?
Tínhamos acabado de sair da festa. Olhava pelo retrovisor. Apercebia-me da forma como aqueles olhos, feitos bolas-carvão e brilhantes se deixavam seduzir pelo outro brilho, o das estrelas. A estrada estava molhada. O limpa-pára-brisas ia cumprindo o seu destino, brincando com as gotas que se iam escondendo entre umas e outras. A luz azul e vermelha do tablier ia iluminando, de forma meiga, aquele espaço.
- Mãe…? Então?... As estrelas estão assim porquê?
Pensava naquela pergunta e na resposta que lhe deveria dar.
O rádio ia acompanhando aquele passeio tranquilo. A voz de Bethânia. “Onde estará meu amor?”
O rádio ia acompanhando aquele passeio tranquilo. A voz de Bethânia. “Onde estará meu amor?”
“…Se a voz da noite respondeu / onde estou eu, onde está você…”
- Porque estão felizes. Porque estão sempre a brincar às escondidas umas com as outras, a pregarem partidas umas às outras…
- Como eu com os meus amigos…
E surgia-lhe um sorriso traquina e brilhante.
- E mãe, porque é que às vezes aparecem uns riscos no céu?
“… Onde estou eu, onde está você / estamos cá dentro de nós, sós / Se a voz da noite silenciar / Raio de sol vai me levar…”
Olhei pelo retrovisor. Já não ouviu a minha resposta. Havia uma paz naquele rosto, próprio das crianças. Ainda sorri. Um autocarro a levar as estrelas de um lado para o outro. Se me ouvissem lá… Olhei novamente pelo retrovisor. Percebia o que ela cantava. Estamos cá dentro de nós. Como as estrelas que estão sempre a brincar umas com as outras e sempre que acaba a festa lá têm que ir apanhar o autocarro.
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